sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Carta de uma mãe portuguesa a seu filho





Te escrevo estas linhas para que saibas que estou viva.
Te escrevo devagar porque sei que tu não consegues ler rápido.
Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres, porque a gente mudou.
Finalmente enterramos teu avô. Encontramos o cadáver com esse negócio da mudança; estava no armário desde aquele dia em que ganhou da gente brincando de esconde-esconde.
Hoje tua irmã Júlia teve um filho, mas como ainda não sei se é menino ou menina, não posso dizer se você é tio ou tia.
Quem não tem aparecido por aqui é o tio Venâncio, que morreu totalmente no ano passado. E teu primo Jacinto, que sempre acreditou ser mais rápido que um touro, comprovou que não era.
Estou preocupada com o cachorro Boby, insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato.
Ah ! Finalmente os engarrafadores de refresco tiveram a grande idéia de pôr um letreiro na tampinha que diz : "Abra por aqui". Que achas ?
Teu irmão José fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro ; teve que ir lá em casa para pegar a chave duplicada e poder tirar todos nós de dentro do carro.
Esta carta te mando com Manolo, que vai chegar amanhã por aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto ?
Bom meu filho, não escrevo o endereço porque não sei. É que a última família portuguesa que vivia aqui nesta casa levou os números para não terem que mudar de endereço.
Se encontrares a dona Maria dá um alô da minha parte ; caso não encontres, não precisas dizer nada.
Tua mãe que te ama: Eu

P.S. Ia te mandar cem escudos, mas já fechei o envelope.

(almanaque do roberto)

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