quinta-feira, 17 de julho de 2008

CARTA DE UMA MAE PORTUGUESA A SEU FILHO

Querido filho,


Te escrevo estas linhas para que tu saibas que estou viva. Te escrevo devagar porque sei que tu não consegues ler rápido.

Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres, porque a gente mudou.

Finalmente enterramos teu avo. Encontramos a cadáver com esse negócio da mudança; estava no armário desde aquele dia que ganhou da gente brincando de esconde-esconde.

Hoje tua irmã Julia teve um filho, mas como ainda não sei se é memino ou menina, não posso dizer se você é tio ou tia.

Quem não tem aparecido por aqui é o tio Venâncio, que morreu totalmente no ano passado. E teu primo Jacinto, que sempre acreditou ser mais rápido que um touro, comprovou que não era.

Estou preocupada com o cachorro Boby, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato.

Ah ! Finalmente os engarrafadores de refresco tiveram a grande idéia de por um letreiro na tampinha que diz: "Abra por aqui".

Que achas ? Teu irmão José fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro; teve que ir lá em casa para pegar a chave duplicata e poder tirar todos nos de dentro do carro.

Esta carta te mando com Manolo, que vai amanha para ai. Puxa ! Será que podes pega-lo no aeroporto ?

Bom meu filho, não escrevo o endereço porque não sei. É que a última familia portuguesa que vivia aqui nesta casa levou os numeros para não terem que mudar de endereco.

Se encontrar a dona Maria dá um alô da minha parte, e se não encontrar, não diga nada.


Tua mãe que te ama.

EU

P.S. Ia te mandar cem escudos, mas já fechei o envelope.

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